Projeto Portugal 2020
DE REPENTE CANTA A GENTE - Programa turístico-cultural intermunicipal de valorização e promoção da arte e tradição repentista do Alto Minho
Ficha de projeto
Nome
DE REPENTE CANTA A GENTE - Programa turístico-cultural intermunicipal de valorização e promoção da arte e tradição repentista do Alto Minho .Valor de financiamento
198,19 mil € .Valor executado
216,3 mil € .Código de operação
NORTE-04-2114-FEDER-000464 .Data de conclusão
31.01.2022 .Sumário
Um dos ícones do património cultural imaterial do Alto Minho é o famoso canto ao desafio ou desgarrada. Num contexto em que formas de canto popular oriundas de outras regiões do País obtiveram reconhecimento mundial tais como o fado ou o cante alentejano, o canto ao desafio deve ser preservado e exibido como ícone diferenciador e identitário do Alto Minho, pelas especificidades que assume nesta região. O chamado canto repentista – no âmbito do qual se inclui o nosso canto ao desafio ou desgarrada – embora existindo em várias regiões do País e até mesmo no Brasil e na Galiza, tem no Alto Minho características diferentes e únicas, nomeadamente: (i) é acompanhado predominantemente pela concertina (os repentistas brasileiros usam habitualmente cordofones); (ii) utiliza palavras simples e uma linguagem direta (as palavras que o povo dominava), mesmo para descrever situações complexas, influência da “literatura de cordel” cuja origem remonta ao século XVI; (iii) a desgarrada minhota admite o confronto entre homens e mulheres; (iv) a especificidade de ter 2, 3 ou 4 cantadores em simultâneo cruzando disputas verbais. O canto repentista é algo que a humanidade descobriu há séculos. Formas repentistas são utilizadas desde tempos ancestrais. Nos rituais religiosos, Budistas e Hinduístas usam os Mantras. Influenciados pelo judaísmo, os cristãos, desde o século IV, usam o Canto Antifonal e desde o século VI o Canto Responsorial que, nos nossos dias, ainda pertence ao ordinário da missa católica. Na Idade Média a música trovadoresca recuperou o ato de compor versos “na hora”, deixando marcas na cultura galaico-portuguesa. Ainda hoje podemos verificar a predominância das desgarradas e cantares ao desafio no Minho, em Trás-os-Montes e na Galiza, ou seja, na área de influência do contexto galaico-português. Antes de Portugal se constituir como nação, numa época em que o falar do povo nas duas margens do rio Minho ainda não se distinguia e em que se desenvolveram as peregrinações a Santiago de Compostela, os peregrinos que atravessavam os Pirenéus vindos da Provença (França), recorriam frequentemente à poesia trovadoresca, nomeadamente às cantigas de escárnio e maldizer, como forma de distração pelo humor, a fim de melhor vencerem as longas distâncias que percorriam a pé. O aspeto humorístico e de improviso estava já contido nestas cantigas. Curiosamente, no Novo Mundo, surgem em grande quantidade formas similares, nomeadamente no nordeste brasileiro. Sabendo que Porto Seguro foi o primeiro local de desembarque de Pedro Álvares Cabral em Terras de Vera Cruz, e sabendo que, entre os primeiros a colonizar o Brasil, estiveram os minhotos, podemos assim explicar como a forma repentista aparece replicada com tamanha veemência do outro lado do Atlântico. O canto repentista não sendo, assim, exclusivo do Alto Minho, é contudo aqui que reúne alguns dos seus expoentes máximos e caraterísticas muito próprias diferentes dos demais. Até ao momento, em Portugal, a desgarrada é um processo espontâneo. Quando alguém descobre que “tem jeito” para combinar palavras de forma imediata, surge um cantador. Ninguém lhe ensinou, nem aprendeu na escola, Por outro lado, nenhum dos cantadores ao desafio se preocupou em sistematizar a técnica da desgarrada. Não se conhecem estudos que a enquadrem em princípios práticos e técnicas que permitam ensiná-la de forma sistemática e planificada. Pelo contrário, na vizinha Galiza, há muito que se ensina nas escolas, dentro da componente regional do currículo escolar a técnica de cantar a Regueifa. Similar aos nossos cantares ao desafio, a Regueifa galega é uma cantiga improvisada ao despique entre duas ou mais pessoas sobre um tema dado, com o objetivo de saber quem tem o aplauso mais sonoro por parte do público. A denominação de Regueifa indicia uma relação com o pão com o mesmo nome e tem a ver com os banquetes de casamento onde após a disputa o vencedor tinha a honra de receber das mãos da noiva uma regueifa que depois repartia entre as raparigas e rapazes solteiros. O conceito desta operação surge, assim, do objetivo estratégico de recuperar uma expressão musical e linguística única no Alto Minho, inclusive algumas formas de cantar que estão em vias de extinção, potenciando a sua prática e o surgimento de novos intérpretes repentistas no Alto Minho, através do desenvolvimento de ações de capacitação e da estruturação de um programa de espetáculos ao nível intermunicipal subordinado a esta temática. A presente candidatura encontra-se estruturada com base nas seguintes três ações: i) Ação 1 - Dinamização e capacitação de jovens talentos e ativos culturais e artísticos do território para a criação cultural e musical associada ao património imaterial no domínio dos cantares repentistas no Alto Minho, com o seguinte objetivo específico: Estruturação e dinamização de ações de levantamento, capacitação e valorização orientadas para a promoção de ativos culturais e artísticos do território e a criação de novos talentos em domínios chave para a estratégia de valorização turística do património cultural imaterial e dos recursos identitários do Alto Minho associados aos cantares repentistas e ao património. ii) Ação 2 - Desenvolvimento de um programa de oferta cultural e turística em rede, associando os cantares repentistas ao património do Alto Minho, com o seguinte objetivo específico: Promover e reforçar qualitativamente a programação cultural em rede, ao nível intermunicipal, associando os cantares repentistas ao património, envolvendo, para o efeito, os ativos culturais e artísticos e jovens talentos do Alto Minho no processo de criação artística e cultural e no aproveitamento dos recursos identitários do Alto Minho, tendo em vista a dinamização e captação de fluxos turísticos e o reforço da identidade cultural regional. iii) Ação 3 – Desenvolvimento de campanha de comunicação e marketing do projeto, com o seguinte objetivo específico: Desenvolvimento de uma campanha de comunicação e marketing, direcionada para diferentes públicos-alvo e mercados de referência do projeto, tendo em vista a promoção da atratividade turística e a geração de riqueza e desenvolvimento para a região.
Beneficiários do financiamento
Beneficiário principal
COMUNIDADE INTERMUNICIPAL DO ALTO MINHO
Distribuição geográfica do financiamento
198,19 mil €
Valor de financiamento
Onde foi aplicado o dinheiro
Por sub-região
1 sub-região financiada .
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Alto Minho 198,19 mil € ,